Um
pedaço enorme de terra, com mais de 40 mil quilômetros quadrados, cercado de
encantos por todos os lados. Esse é o Arquipélago de Marajó, o maior conjunto
de ilhas fluviomarítimas do mundo. Depois de um período de chuvas intenso, que
chegou a alagar dois terços das ilhas, o sol surge como uma divindade,
revelando o charme peculiar de um santuário ecológico para os turistas.
Entre
os 16 municípios que formam o arquipélago, Soure é a capital informal da
região. Para chegar até lá, uma das alternativas mais rápidas e confortáveis é
a lancha rápida, inaugurada em novembro do ano passado. A lancha sai do
Terminal Hidrovário de Belém às 8h da manhã e faz o percurso Belém-Soure em
apenas duas horas. A nova linha faz parte da Agenda Mínima do Governo do Estado
e foi criada para dar mais conforto e segurança à população.
Com
132 poltronas numeradas, ar-condicionado, televisão, lanchonete e wifi, as
modernidades da lancha rápida enchem de orgulho o ex-comandante da Marinha,
Roberto Barros. Hoje aposentado, ele foi convidado para a viagem inaugural da
lancha, mas dessa vez foi a passeio, junto de sua esposa. “É uma felicidade
muito grande ver um desejo nosso virar realidade. Essa lancha traz um salto
significativo para o transporte nos nossos rios”, disse ele.
A
ilha é banhada ao norte pelo Oceano Atlântico e navegar na baía do Marajó se
torna, então, uma pequena aventura. O vai e vem frenético da lancha na baía faz
parte do roteiro de boas vindas. Os turistas são recebidos, ainda no cais, por
um simpático búfalo, montado por um policial.
Os
búfalos do Marajó fazem parte do maior rebanho do Brasil. São cerca de 600 mil
cabeças, o dobro do número de habitantes da região. Mas apesar da fama
imponente, os búfalos que circulam em Soure e servem como atração, mais parecem
bichos de estimação, de tão carismáticos. “Percebemos o grande interesse dos
turistas, que iam visitar nossa guarnição só pra ver os búfalos e resolvemos
facilitar, trazendo os animais para recepcionar os turistas”, conta o tenente
coronel Oscar.
A
Polícia Militar de Soure faz a ronda matinal diária montada neles, desde 1992.
São 10 búfalos da raça Carabao, que possui mais resistência e força na tração.
Eles obedecem fielmente às ordens dos policiais, que cuidam deles desde
pequenos. A relação entre policial e búfalo acaba ultrapassando o trabalho
diário. “Quando chego em casa, à noite, fico preocupado com o 'Baratinha' e
ligo para o batalhão, para saber se está tudo bem, se ele não fugiu. Cuido dele
há quase 10 anos", conta o sargento PM Vitelli. O “Baratinha” é o mais
famoso dos búfalos da PM. Já figurou até no elenco da novela da Globo,
"Amor, eterno amor”.
Quem
também exibe pinta de galã é o búfalo “Alemão”. Ele foi batizado assim por
causa de seu pêlo loiro na cabeça. Por onde passa, o Alemão, usado como
anfitrião de um hotel de Soure, encanta turistas. Foi assim com a gaúcha Ana
Elisabete Maiseichyk, que conheceu Soure esta semana. “Assim que eu o vi, me
apaixonei. Olha só essa carinha dele. Eles são fantásticos. É exótico e ao
mesmo tempo, cativante”, disse a turista, enquanto montava no animal.
Culinária
que ganha o mundo
É
do búfalo que se extrai carne, couro, leite e o famoso queijo do Marajó. Rico
em gorduras, proteínas e com menos colesterol que o queijo tradicional, o
produto marajoara passa por oito etapas de fabricação até a mesa do consumidor.
A receita é centenária e a iguaria artesanal hoje é vendida no Rio de Janeiro e
em São Paulo por 120 reais o quilo, enquanto que no Marajó, é vendida a 20
reais.
A
delícia começou a ganhar o Brasil depois que foi reconhecida como um produto
artesanal do Pará, em 2013. O primeiro produtor de queijo do Marajó a receber o
certificado foi Carlos Augusto Gouvêa, o quarto da geração na família que
comanda a Fazenda Mironga, em Soure, que hoje produz 40 Kg de queijo do Marajó
por dia, de domingo a domingo. “Graças ao Governo do Estado, o queijo do Marajó
deixou de ficar ilhado e hoje ganhou o Brasil. Como um produto artesanal,
reconhecido em lei, temos mais autonomia para a venda”, disse o fabricante.
O
queijo “Mironga” é fabricado na própria fazenda da família, um verdadeiro
templo de culto ao búfalo, desde a decoração na parede até os relatos
apaixonados do “seu Tonga”, o patriarca dos Gouvêa, que devota aos búfalos toda
a sua gratidão pelo império erguido pela família.
Mas
nem só de búfalo se faz o charme do Marajó. Nos 15 minutos do trajeto que leva
até a praia do Pesqueiro, Soure se transforma em um lúdico vilarejo, idêntico
ao cantado por Marisa Monte. Lá, “portas e janelas ficam sempre abertas pra
sorte entrar”, flores enfeitam as janelas e, nas calçadas, tem sempre um
caboclo com sorriso escancarado e a alma aberta, pronto para ajudar.
A
cordialidade do povo marajoara chamou a atenção da servidora pública paulista
Barbara Cordovani. Acompanhada de uma amiga, ela acampou na Praia do Pesqueiro
e se apaixonou pelo lugar. “Além de a praia ser linda, é muito louco você estar
pegando sol e de repente, abrir o olho e dar de cara com um búfalo no meio da
areia. A simplicidade do povo também é muito bonita” diz a turista. Bárbara se
referia especialmente à Sandra Cruz. É na barraca dela que Bárbara e sua amiga
têm o suporte do banho e das redes para dormir.
Mãe
de dois filhos já adultos, Sandra já se acostumou a adotar turistas que vão
acampar na praia. O prazer de ajudar jovens e crianças vai além. Professora
aposentada de uma escola municipal, ela sonha em montar uma biblioteca
comunitária em plena praia do Pesqueiro. O mais importante, já tem: um acervo
de quase 500 livros doados por escolas da região. "Quero ajudar os jovens
a ganhar sabedoria e também aprender com eles. Os mais humildes têm muito a nos
ensinar”, conta, com os olhos brilhando.
Com
dunas de areia clara e igarapés, a praia do Pesqueiro, em Soure, é quase tão
bonita quanto a praia de Barra Velha, também no município. É lá, na Barra
Velha, que se vê um deslumbrante nascer do sol e a clássica cena de pescadores
iniciando mais um dia de trabalho.
As
belezas naturais também são encontradas na praia Grande, em Salvaterra. Para se
chegar ao local, é preciso atravessar de balsa. A viagem dura 20 minutos.
Chegando à Praia Grande, os igarapés são tomados por crianças e adultos, a
caminho da praia. Palmeiras com coqueiros e açaizeiros completam o cenário
rústico e acolhedor. Na saudação de um caboclo, no olhar de um búfalo, nas
ruínas de uma igreja do século XVIII, tudo se faz canção.
A
primeira semana de julho foi tranquila nas praias de Salvaterra. “Registramos
apenas um banhista ferrado por arraia e alguns cortes”, disse o Tenente
Fernando Varela, do Corpo de Bombeiros, que está atuando com oito homens por
dia nas praias de Joanes e Praia Grande, assim como em Pesqueiro e Barra Velha.
A Polícia Militar de Soure buscou reforço de Belém para o efetivo de 60 homens
por dia, que fazem a ronda no município.
Como
chegar:
Quem
estiver de carro, deve pegar a balsa no porto de Icoaraci, a 20 km do centro de
Belém.
Quem
estiver sem carro, a melhor opção é a lancha rápida. Ela sai todos os dias, às
8 da manhã, do Terminal Hidroviário de Belém, até Soure. Preço: 48 reais
O
que visitar: Praia do Pesqueiro e Barra Velha, em Soure. Fazenda Mironga e
Fazenda Bom Jardim, também em Soure. Praias Grande e de Joanes e Ruínas de
Joanes (Salvaterra).
Fonte: AGPA