Passei minha
infância e pré-adolescência em duas cidades daquela por mim tão querida Ilha. O
tempo passa e acho que deveria aquele rincão amazônico receber mais atenção, em
especial do governo federal, mesmo nesses momentos em que o país está
mergulhado numa crise econômica, política, social e moral. A maior ilha fluvio-marítima
do mundo, se geograficamente fosse localizada na Alemanha, Noruega, Holanda,
Inglaterra, Dinamarca ou nos Estados Unidos, seria sem dúvida uma fábrica de
turismo, gerando empregos e atraindo visitantes do mundo inteiro.
O Marajó é
dividido em duas regiões. A Região de Campos, formada por Cachoeira do Arari,
Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure; e a
Região da Floresta, unindo Afuá, Anajás, Bagre, Breves, Curralinho, Gurupá,
Melgaço, Portel e São Sebastião da Boa Vista. Além das belezas naturais,
cercadas por praias de mar, praias de água doce e igarapés, o principal
encantamento dessas cidades está na alma de seus hospitaleiros habitantes.
Os precários
meios de transporte fazem de cada viagem uma aventura, com exceção de Ponta de
Pedras, Salvaterra e Soure. Vale ressaltar que os navios chamados de barcos que
zarpam de Belém a Portel com escalas em Curralinho e Breves, são dotados de
camarotes, alguns com suítes, todos com ar climatizado. Os preços das
passagens, tanto de cama ou aos que preferem rede, são caros e o passageiro não
tem direito a um copo d’água, é refém e paga por isso no bar, local onde é
vendido de cerveja quente, sanduíche, refrigerantes e até sabonete. De
cortesia, apenas o volume alto da música mecânica de péssima qualidade.
Nenhum município
é servido com linha aérea regular. O frete de um avião monomotor da capital a
Breves, Portel ou Gurupá, custa mais caro que uma passagem para qualquer
capital da Europa ou dos Estados Unidos.
A única cidade
com aeroporto de pista disponível e capacidade de pouso de aeronave de grande
porte é Breves, onde o sucatão da Presidência da República levou dona Marly
Sarney, então primeira dama, quando lá esteve. Nos momentos áureos da
exportação de madeira, aviões de porte médio escalavam em Breves, daí
passageiros de também cidades vizinhas eram beneficiados e dentro de meia hora,
o avião à maioria Bandeirantes ou Brasília aterrissava em Val-de-Cans. O
aeroporto precisa de instrumentos para pousos e decolagens noturnas a usufruir
pelo menos um voo diário da rota Belém/Macapá/Belém, obedecendo ao ponto de apoio,
criado pela própria Aeronáutica.
Para ter-se uma
ideia, o tempo de duração da viagem Belém/Breves e vice-versa é de 12 horas por
trecho. Sai às 18h e chega ao destino às 6h. Outro transporte marítimo é o
catamarã, leva apenas entre 6 e 7 horas de viagem, somente trafega pela parte
diurna, o que oferece ao passageiro visibilidade das cidades no decorrer do
percurso.
Justiça faça-se,
o Hospital Municipal e o moderno Hospital Regional em Breves, onde várias
especialidades da medicina são oferecidas, assim, evita em parte, o deslocar de
pacientes para a sucateada, congestionada e repugnante saúde pública da
capital.
O Marajó, com
apenas 468.822 habitantes e 273.583 eleitores é a região mais pobre e menos
habitada do Pará. Um paraíso para o qual Brasília jamais deu atenção e seus
dirigentes não aprenderam a lição quando das aulas de Geografia. Uma pena.
Fonte: O Liberal.