Há duas semanas
Jesus de Almeida Freitas, 33, se recupera de um grave ferimento que chegou a
perfurar um dos pulmões e quase lhe custou a vida. Os movimentos e a fala ainda
são lentos. Morador da comunidade Santa Maria, no município de Anapu,
mesorregião oeste do estado, ele foi atingido com um golpe de faca durante uma
discussão ao final de uma partida de futebol. Levado a um hospital de Portel,
ele recebeu os primeiros atendimentos, mas em razão da gravidade do caso foi
encaminhado ao Hospital Regional Público do Marajó (HRPM), em Breves, que
atende casos de alta complexidade. Hoje, ele comemora uma nova vida.
Assim como Jesus,
milhares de outros paraenses que vivem nos municípios do entorno já tiveram as
suas vidas salvas ou conseguiram apoio para cuidar da saúde no Hospital
Regional Público do Marajó (HRPM), que completa este domingo (25), seis anos de
atividades, consolidando-se como uma referência em saúde pública nessa parte do
estado.
Mantido pelo
Governo do Pará, por meio de contrato de gestão firmado entre a Secretaria de
Estado de Saúde (Sespa) e a Organização Social de Saúde Instituto Nacional de
Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), hoje o Regional Público do Marajó é um
dos hospitais-modelo do estado e reflete um exemplo bem sucedido de gestão da
saúde pública, que tem o grande mérito de oferecer qualidade de atendimento
apostando na regionalização dos cuidados em média e alta complexidade.
"Um primo
pediu para que me encaminhassem para cá (Breves). E eu pude ver que aqui é
muito diferente. Inclusive tudo isso está sendo novo para mim: é a primeira vez
que levo um susto desses, é a primeira vez que sou internado num hospital... e
é a primeira vez que tomo uma facada [risos]. Mas também é a primeira vez que
vejo um hospital funcionando tão bem quanto este aqui. É realmente muito bom,
me sinto tranquilo e sei que vou sair dessa bem", prevê Jesus Freitas.
“O balanço desses
seis anos mostra como é grande o impacto do HRPM para a saúde da população que
vive nessa porção do arquipélago marajoara, em especial para os sete municípios
da área de influência dessa região. O hospital supre as carências desses
municípios e reduz o fluxo de pacientes que procurariam atendimento na capital”,
avalia Fernando Oliveira dos Santos, 31, que há um ano é gerente administrativo
e financeiro do Hospital Regional Público do Marajó.
“Esse é um
hospital de pacientes referenciados, encaminhados pelo atendimento básico. A
cada ano, movimentamos cerca de R$ 39 milhões para cumprir as necessidades de
atendimento e demandas de saúde”, destaca.
Referência -
Quando construído pelo governo do Estado na ribeirinha e portuária Breves, o
HRPM foi planejado para ter 9.926m² de instalações físicas distribuídas em uma
área de 23.916m², situada à avenida Rio Branco, a principal do município, que
soma hoje 100 mil habitantes. No entanto, estima-se que o hospital seja
referência para uma população estimada em 270 mil habitantes, moradores dos
sete municípios pactuados com o 8° Centro Regional de Saúde da Sespa: Bagre,
Curralinho, Anajás, Portel, Melgaço, Gurupá, além de Breves.
Dotado de uma
bela área verde em seu entorno, o prédio do HRPM é reconhecido pelos moradores
de Breves por ser garantia de assistência segura, de qualidade e humanizada. Ao
todo, hoje o HRPM soma uma equipe multiprofissional com mais de 400
colaboradores diretos e indiretos, incluindo médicos, profissionais de
enfermagem e especialistas em diversas áreas de saúde.
O hospital
oferece clínicas integradas com as especialidades de obstetrícia, cirurgia,
ortopedia, oftalmologia, cardiologia, pediatria, clínica médica, anestesia e
terapia intensiva, além de exames laboratoriais, por imagem e métodos gráficos.
O HRPM mantém também um centro cirúrgico e obstétrico com três salas cirúrgicas
- uma para reanimação -, além de ambiente para pós-operatório e pré-operatório.
O atendimento em
fisioterapia do hospital também é uma referência para a região. E os usuários
ainda dispõem de uma unidade de ambulatório com cinco consultórios, o que dá
mais agilidade aos atendimentos. Atualmente, o índice médio de satisfação dos
usuários do hospital é de 95%, conforme dados levantados no período de janeiro
a agosto de 2016.
Em seis anos, o
HRPM lista números que ressaltam o quanto faria falta à região, caso não
existisse. Nesse tempo, o hospital já realizou 810.805 exames, entre os quais
78.957 ambulatoriais, como análises clínicas, raios-x, tomografias, mamografias
e outros serviços. Também já fez um total de 1.330 partos e cesarianas, além de
11.473 cirurgias - entre operações eletivas e de urgência e emergência.
Desde a sua
implantação, em 2010, o hospital registra um total de 299.790 atendimentos nos
mais variados serviços. Entre eles, 727.824 exames, 67.734 atendimentos
ambulatoriais e 23.498 ligados a registros de urgência e emergência.
O Hospital
Regional Público do Marajó dispõe de 70 leitos – 53 para atendimento clínico e
17 UTIs, sendo cinco pediátricas, cinco neonatais e sete para adultos. Ao todo,
nos últimos seis anos contabilizou 14.844 internações (saídas hospitalares),
220.270 sessões de fisioterapia, 10.039 diárias de UTI adulto, 7.879 diárias de
UTI pediátrica e 9.010 diárias de UTI neonatal, além de 3.806 consultas e
cirurgias em oftalmologia, 262 consultas de urologia e outras 180 de
mastologia.
Excelência e
humanização – Dotado de uma sólida política de segurança ambiental para gestão
do lixo hospitalar, o hospital mantém um programa de gerenciamento de resíduos
de serviços de saúde (PGRSS) bem avançado, focado na coleta, no tratamento e na
destinação adequada deste material. O HRPM também mantém uma horta 100% orgânica,
para garantir que alimentos feitos pelo hospital estejam livres de agentes contaminantes,
como agrotóxicos.
Porém, é
justamente nos esforços para transformar seus serviços e espaços em referências
em atendimento humanizado que o Hospital Regional do Marajó tem conquistado os
seus maiores reconhecimentos e avanços. A instalação de redários para
acompanhantes e a abertura de um espaço que reúne serviços especiais para
gestantes são os destaques dessa política do HRPM.
Em busca da
certificação IHAC (Iniciativa Hospital Amigo da Criança) - idealizada em 1990
pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância), para incentivar a boa saúde dos partos e o aleitamento
materno - o Hospital do Marajó implantou o Espaço da Gestante, que propicia
atendimento humanizado e dedicado especialmente a demandas de gestantes,
incluindo as de alto risco.
"O impacto é
muito grande. Elas se sentem muito mais acolhidas, pois antes ficavam
misturadas aos outros pacientes. Aqui elas sentem que é o lugar delas, onde
podem trocar até experiências", avalia enfermeira Leydy Hellen da Silva
Teixeira, responsável pelo Espaço Gestante do HRPM. "Muitas já se sentem
como se estivessem em casa, e passam para as outras informações do que existe aqui.
Algumas delas já chegam procurando pelo meu nome. Querem falar com a enfermeira
Leydy", sorri.
Recentemente o
projeto de instalação de redários para acompanhantes de clientes internados
também foi premiado. O troféu pelo case de sucesso em qualidade e segurança
veio do encontro Líderes da Saúde do Norte e Nordeste, de 2016. Os espaços funcionam
desde julho deste ano.
"É muito
bom. É mais confortável. Ajuda a gente, não é minha princesa?", diz
Laudecir Cardoso da Silva, enquanto ensaia uma conversa com sua pequena Maria,
que se recupera de uma virose numa das enfermarias pediátricas do hospital.
Jéssica Viana Corrêa, 20, que acompanha o filho Pedro Corrêa, compartilha da
mesma impressão de Laudecir. No quarto onde as duas estão, o colorido das redes
instaladas ao lado dos leitos ajuda a quebrar o tom do frio quarto de hospital.
“Isso é algo que resume o esforço de
humanização do hospital, atentando às características e à cultura da região.
Iniciamos como um projeto piloto na pediatria, e deu muito certo. As redes dão
uma noite de descanso melhor às mães”, diz o gerente administrativo e
financeiro do HRPM, antecipando que a meta é levar essa mesma proposta a todos
os leitos de internações do hospital.
“Nesses seis
anos, a busca pela humanização do serviço tem sido um dos maiores esforços do
hospital. A valorização do paciente é seguramente o maior ganho do HRPM no
balanço desse período”, pondera Isa Barbosa de Oliveira, gerente de Enfermagem
do HRPM.
Avanços – O HRPM
se orgulha também de estar avançando para oferecer novas especialidades.
“Conseguimos implantar e firmar atendimentos em otorrinolaringologia,
mastologia, urologia e ginecologia oncológica, que era uma necessidade muito
grande da região. Na oftalmologia, o hospital hoje faz atendimentos e também
cirurgias”, comemora o gerente Fernando Oliveira.
Para mais
adiante, a gestão do HRPM já estuda a implantação de um serviço de hemodiálise.
Atualmente, o desafio é conseguir acesso à água potável, com melhor padrão de
qualidade. Empresas e laboratórios já estão sendo convocados para buscar
soluções nesse sentido. “É algo que queremos ver em operação em cinco anos ou
até antes”, diz o gerente do HRPM.
A acreditação do
hospital por reconhecidas instâncias e entidades de avaliação externa também é
um projeto futuro. E faz parte de uma necessidade que tem tudo a ver com a
cultura interna de um hospital público gerido por uma OSS - onde tudo gira em
torno da busca constante pela qualidade de prestação de serviços. O hospital já
se prepara para buscar sua primeira certificação pela Organização Nacional de
Acreditação (ONA) a partir de 2017.
“A equipe se
sente muito satisfeita. Temos um aparato diferenciado nessa região, e
seguramente, mais qualificado até que em alguns hospitais da capital. O modelo
de gestão de hospitais públicos por OSS é o caminho certo e aponta para um
cenário com mais hospitais como esse nas diversas regiões do estado”, diz o
médico Waldemar Fernandes da Silva Júnior, especialista em radiologia do HRPM.
Reforça isso o
trabalho diário do biomédico Milton Ferreira, responsável pela Agência
Transfusional do HRPM, uma unidade instalada dentro do hospital que funciona 24
horas, sete dias na semana. É ele quem cuida das bolsas de sangue e demais
hemoderivados que abastecem o hospital e também outros estabelecimentos de
saúde nos sete municípios região. "Aqui, somos o núcleo de referência do
Hemopa para todos os municípios atendidos nessa região do Marajó. Nosso
trabalho é crucial para a demanda de sangue de Breves e de vários outros
hospitais nas demais localidades. E nossa rotina não para nunca".
O secretário
estadual de Saúde, Vitor Mateus, também faz questão de ressaltar o desempenho e
dedicação dos profissionais que atuam no HRPM para os avanços conquistados ao
longo desses seis anos. "O Hospital Regional do Marajó integra uma rede de
saúde planejada para assegurar a oferta de serviços de média e alta
complexidade nas várias regiões do Pará. Nesse aniversário de seis anos,
parabenizo todos que colaboram com esse trabalho. A dedicação dos profissionais
é traduzida pela atenção e reconhecimento da população do Marajó, região onde
essa condição excepcional se faz ainda mais necessária”.
Fonte: AGPA.