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17/10/2016
Variados
RELIGIOSO QUER FEDERALIZAÇÃO DO MARAJÓ.
 


O bispo emérito da prelazia do Marajó, Dom José Luiz Azcona, defende que o Marajó seja transformado em território federal, porque avalia ser impossível pensar uma transformação marajoara sem um Plano de Desenvolvimento forte, abrangente e com aspectos particulares. “Tem que ser pensado em um conjunto global como é o Marajó, com suas diferenças, mas também com sua unidade e sua unicidade. Marajó território federal é a única solução viável, efetiva e objetiva ao descaso, ao abandono, tanto do governo estadual quanto central, da União, a um povo que atualmente conta com 570 mil habitantes e que foi sempre abandonado. E ainda não recebeu esse apoio necessário para viver dignamente como um povo brasileiro”, defende o religioso nesta entrevista.

Para o senhor, que luta há mais de 30 anos em defesa do povo Marajó, por que a realidade da região não muda para melhor?

Não existe uma consciência de que realmente o Marajó pertença, de fato, política, econômica e socialmente ao Pará. Não é interessante aos grupos de poder que orientam e governam na sociedade paraense contar com um Marajó livre. Um Marajó livre, a partir da liberdade econômica, porque quem não tem liberdade econômica tampouco vai ter normalmente uma liberdade política associada. Portanto, libertar um povo de maneira que pense pela conta dele é o que nossas autoridades nunca quiseram. Existe um pacto do silêncio, do abandono, um pacto de não querer saber porque Marajó, pela sua parte, nunca se levantou, digamos, de modo unido, uniforme, para decidir aquilo que lhe corresponde. Somente nos últimos anos é que existem esses movimentos, a partir da AMAM (Associação dos Municípios do Arquipélago do Marajó) e da própria sociedade civil, que querem autonomia dentro da unidade nacional e da unidade de sermos também paraenses. Chegou o momento, pois, de romper com tudo aquilo que está propiciando uma situação de abandono, de passividade, de morte e ressurgir, de uma vez, para a liberdade, para sermos, de verdade, povo brasileiro. Porque, se lermos os cinco primeiros artigos da Constituição brasileira, que são pétreos e fundamentais para a constituição de uma nação, sobre aquilo que é ser brasileiro, nenhum deles é aplicado à realidade marajoara. Portanto, constitucionalmente, não somos parte do Brasil. Não tem trabalho, não tem dignidade humana, não se defende os direitos da liberdade, não se defende a educação, tem analfabetismo. Em Melgaço, metade da população adulta é analfabeta. Nessa situação, não somos brasileiros.

Na reunião com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e com a Pro-Natura, o senhor também falou sobre a necessidade de combater monopólios...

De modo positivo se trataria de chamar a atenção sobre os quatro elementos que podem configurar uma reviravolta completa em toda a história do Marajó. Entendendo essa virada de modo integrado, tendo em conta os elementos culturais, econômicos, sociais e históricos do Marajó, que seriam o peixe, o açaí, a farinha e o turismo. Em relação ao monopólio, há tendências para monopolizar a comercialização do açaí. Grupos, por exemplo, que vem de longe para operar açaí no Marajó. Muitos barcos chegam no interior de Anajás, um dos municípios produtores de açaí, talvez o maior produtor de todo o Marajó. Está se notando uma concentração da comercialização do produto do açaí em torno de alguns grupos que, aos poucos, vão tomando espaço e controle do açaí - portanto, do preço do açaí. Um açaí que, fora da safra, custa 24 reais o litro é um açaí que o povo não pode se alimentar, quando historicamente, e durante séculos, o que alimentou foi o açaí e a farinha, está com preços exorbitantes, que, no mercado, quando os monopólios assumam esse controle, vai ser o final dos pobres do Marajó. Portanto, precisa o governo acordar e ajudar a população. Organizar no estudo, na produção, na comercialização, na venda e na exportação do açaí. Um Estado que seja imune às tentações da agressividade capitalista. Mas o Estado não está investindo absolutamente nada.

A exploração sexual de crianças e adolescentes, que o senhor sempre denunciou, aumentou no Marajó?

É muito difícil falar se aumentou, se se agravou, porque precisaríamos de estudos estatísticos que ninguém possui. Ninguém. Pelo que podemos observar, tem se dado uma tomada de consciência bem clara na maior parte da população deste fenômeno desumano, brutal, sem nome que é a exploração sexual de menores. Fenômeno que, por outra parte, não é exclusivo do Marajó. Quando teve em 2010, 2011 a CPI no Pará (que investigou o abuso sexual contra crianças e adolescentes), vimos que todo o Pará estava maltratado por essa realidade tenebrosa. E tudo isso cria, pois, um despertar, um acordar de maneira que tem até crianças que têm coragem de denunciar, coisa que antes ou porque não sabiam ou porque estavam amedrontadas não conseguiam. E tem também cidadãos que estão enfrentando essa realidade e outros cidadãos que são criminosos se cuidando. Eu creio que não tem mudado muita coisa. Continua porque, entre outras razões, a impunidade é evidente. Agora está para sair, por parte da Justiça do Trabalho (da 8ª Região), uma decisão sobre balsas e vai ser uma decisão forte, que vai poder mudar pelo menos o lado da repressão que é importantíssimo também para que os transgressores e os criminosos não retornarem a essa criminalidade.

Fonte: O Liberal.

Comunicação/AMAM
 
  
 
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