Conhecido pelos
iniciados em sua obra, mal conhecido pelos leitores paraenses em geral e, por
falta de reedições de seus livros, um total desconhecido para as novas
gerações, Dalcidio Jurandir (Ponta de Pedras, 1909/ Rio de Janeiro, 1979), um
dos mais importantes romancistas do Pará, pode ter uma das suas obras mais
famosas reeditada, o romance “Ponte do Galo”, se tiver êxito a campanha de
financiamento coletivo com esse objetivo iniciada no dia 7 deste mês pela
Editora Parágrafo. “A campanha durará 60 dias e, nesse período, leitores e
apreciadores da obra dalcidiana poderão apoiar financeiramente a iniciativa
adquirindo exemplares do livro físico ou e-book, e ganhando recompensas pela
colaboração”, informa Dênis Girotto de Brito, professor, escritor e designer
editorial, que lidera a campanha. Uma boa notícia para marcar uma data
simbólica hoje, o Dia Internacional do Livro.
Envolvidos com o
projeto também estão a artista plástica e ilustradora Paloma Franca Amorim,
fotógrafo marajoara Eliseu Pereira e o professor e pesquisador Paulo Nunes,
estudioso da obra de Dalcidio, escolhido para fazer a apresentação do romance.
Sem reedição há 46 anos, “Ponte do Galo” é o sétimo romance dos dez escritos
por Dalcidio Jurandir, no que passou a ser chamado, no conjunto da sua obra, o
Ciclo do Extremo-Norte.
Sua primeira
edição é de 1971, feita pela Editora Martins/Mec. Dividido em duas partes, que
se passam em Cachoeira (Ilha do Marajó), terra natal do escritor, e Belém,
respectivamente, o livro narra a história de Alfredo, alter ego de Dalcídio,
menino marajoara que sonha em ir para a cidade grande continuar seus estudos.
Dalcídio explora em toda a sua obra a região e seus habitantes, dando ênfase ao
ser humano, seus medos, angústias, sentimentos e sobrevivência. Segundo os
especialistas, “sua literatura vai além do simples retrato da Amazônia. Ele
revela outro mundo, das pessoas comuns de uma vila no meio de uma ilha e
introspecções e desejos. São emblemas humanos que circundam a narrativa. Pela relevância
e riqueza da sua literatura em retratar a Amazônia, seu povo e sua cultura,
Dalcídio está para a sua região como Graciliano Ramos, Jorge Amado e Érico
Veríssimo estão para as suas”.
Em 50 anos de
literatura, Dalcidio escreveu 10 romances amazônicos e teve um livro de poemas
publicados post mortem, Poemas Impetuosos (Belém, 2011) organizado por Paulo
Nunes para a editora Paka-tatu em convênio com a Casa de Cultura Dalcídio
Jurandir. “Ponte do Galo” é um dos livros mais raros e menos lido do romancista
marajoara, que teve dois dos seus livros publicados também no exterior: “Belém
do Grão-Pará”, com duas edições em Portugal, e “Linha do Parque”, (um livro que
não integra o ciclo marajoara, publicado em Moscou).
Com sua primeira
parte se passando em Cachoeira do Arari, onde o personagem Alfredo goza férias
escolares, e a segunda em Belém, onde a periferia da Belém, sobretudo o
Telégrafo e arredores, ganha destaque, o romance é considerado “um primor da
Negritude e da Amazonicidade, coisa que Dalcídio aprendeu a respeitar com seus
pares da Academia do Peixe Frito, congregação informal liderada por Bruno de
Menezes, que se reunia no Ver-O-Peso, cerca de 13 moços pobres e quase todos
pretos, nos idos dos anos 30 do século passado, com o intuito de renovar nossa
cultura e nossas letras”.
Dalcidio fez sua
estreia na literatura com “Chove nos campos de Cachoeira”, publicado em 1941, e
com ele venceu o concurso instituído pelo jornal D. Casmurro e pela Editora
Vecchi. Seu último romance foi “Ribanceira”, que, recomendado por Jorge Amado,
foi lançado pela Editora Record em 1978.
Paulo Nunes se
declara entusiasmado com a iniciativa de buscar meios de reeditar Dalcídio. Ele
diz: “Estou entusiasmado, com esta nova edição, falta agora que o governo do
Pará tome para si a proposta de assinar um convênio com uma grande editora
brasileira para viabilizar a edição completa - e de qualidade - do Ciclo do
Extremo Norte”. E acrescenta: “O Brasil sem Dalcídio é um Brasil lacunar,
capenga mesmo, porque a representação que Dalcídio Jurandir faz das gentes da
Amazônia faz dele um autor único no cenário literário brasileiro”.
Segundo o
professor, Dalcídio, além de um grande romancista, é “um brasileiro incomum”,
sempre retratando o Brasil a partir da sua gente mais humilde - como ele mesmo
dizia: “A minha criatura dos pés no chão”. Dalcídio se referia, segundo o
prefaciador da futura reedição de “Ponte do Galo”, àqueles que habitam as
periferias do país, onde a Amazônia, palco dos dramas, que Paulo Nunes chama de
“o ‘teatrum mundi’ dalcidiano”, é também uma periferia incompreendida.
TROCA DE LIVROS
O Dia
Internacional do Livro também será marcado hoje, por uma programação no Bar
Café Container (Avenida Alcindo Cacela, 280, em frente a Universidade da
Amazônia), que abre suas portas aos amantes da literatura, promovendo uma troca
de livros, em parceria com o grupo “A Feira do Livro na Praça da República”.
Além da troca de livros, o encontro ‘‘Grãos & Páginas” também festeja o Dia
Internacional do Café, comemorado também em abril. O evento é uma iniciativa
que tem como objetivo incentivar o consumo e reconhecimento de grãos de café
especiais, além de estimular a movimentação de livros na troca que ocorrerá no
espaço. O encontro inicia às 17h e vai até às 19h30. Segundo pesquisa divulgado
pela Instituto Pró-Livro, apenas 56% da população leu ao menos um livro ou
parte dele nos três meses anteriores à pesquisa, realizada em 2016. Se
comparado ao resultado da pesquisa de 2011, o hábito da leitura entre os
brasileiros ainda continua tímido.
Apoie e faça
parte dessa reedição histórica de um dos maiores romances da literatura
brasileira. Acesse► https://www.catarse.me/ponte_do_galo
Fonte: O Liberal.