O mundo quer o novo, em cor, em
aroma, em sabor”, garante o pesquisador da Embrapa João Tomé de Farias. “E,
quando se trata de frutas, nada é mais novo, em termos planetários, do que o
açaí, que ainda tem, por exemplo, toda a China como provável mercado.” É de
olho neste mercado que o governo estadual, por meio da Secretaria de
Desenvolvimento, Mineração e Energia (Sedeme), transformou o açaí na estrela do
programa Pará 2030, com ações de desenvolvimento e verticalização a partir de
14 cadeias produtivas.
Os resultados foram imediatos. Na
quinta-feira passada, na reunião da Comissão de Incentivos do governo, duas
novas empresas receberam incentivos fiscais para instalar plantas industriais
de açaí, em Castanhal e Igarapé-Miri. Elas se juntam a outras oito já
incentivadas pela Política Estadual do Açaí, articulada para atrair empresas e
dar incentivos para que outras, que produziam apenas polpa, industrializem a
fruta. Na semana anterior, a agência GIZ, ligada aos ministérios Açaí
tradicional no Pará é consumido juntamente com outras frutas em diferentes
países IGOR MOTA - ARQUIVO do Desenvolvimento e do Meio Ambiente da Alemanha,
participou de reunião na Sedeme para ter mais informações sobre o açaí. A
agência, que tem 18 mil funcionários em 120 países, pretende investir 350 mil
euros no Brasil nos próximos anos. As cadeias do açaí, no Pará, e da carnaúba,
no Ceará, são as duas prospectadas até agora. No âmbito do Pará 2030, dois
casos emblemáticos ilustram a progressão do desenvolvimento da cadeia da fruta:
a Frooty Acaí leva polpa do Pará pra industrializar em São Paulo; hoje,
implanta uma indústria em Mocajuba, gerando 250 empregos. A paraense Bonny Acaí
industrializava a polpa em Itaipava (RJ). Agora, vai industrializar em
Igarapé-Miri, gerando 150 empregos. “O açaí é estratégico porque, além do
extraordinário potencial econômico, beneficia diretamente a agricultura
familiar e abrange dezenas de municípios onde o IDH é muito baixo”, pondera o
titular da Sedeme, Adnan Demachki. “Hoje, produzimos um milhão e cem mil
toneladas do fruto; a política para esta cadeia prevê aumentar a produção em
50% até 2030.”
DINHEIRO
Para João Tomé de Farias,
agrônomo com doutorado em genética e melhoramento de plantas, cultivar açaí
irrigado no Pará é o melhor negócio agrícola hoje do Brasil. “Existe uma
demanda reprimida tanto no Estado (que não dá conta de atender a todos os
municípios), no Brasil (onde a exportação ainda se concentra em São Paulo, Rio
de Janeiro e Minas Gerais), e no mercado internacional, onde o açaí chega a
trinta países, mas 80% da exportação se concentram em Estados Unidos, Japão e
Austrália.” O engenheiro agrônomo Geraldo Tavares, gerente de Fruticultura da
Secretaria Estadual de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), informa
que um pé de açaí demora, em média, quatro anos para frutificar e o período
produtivo dura oito anos. “Depois, os pés ficam muito altos e também a
produtividade começa a cair.” Noventa por cento do açaí produzido hoje no
Estado ainda é nativo, de várzea.
E grande parte dele permanece
intocada, por estar dentro de grandes matas, quase inacessíveis. Daí que a
plantação é um negócio que vai se expandir muito nos próximos anos. “A Política
Industrial do Açaí inclui, além de incentivos de até 95% de isenção, o Pró
Açaí, que prevê o plantio de 40 mil hectares de açaí irrigado”, informa o
titular da Sedeme, Adnan Demachki. “Quem investir no açaí, tanto na
industrialização, quanto no cultivo, vai prosperar, sem dúvida nenhuma.” João
Tomé de Farias diz que a grande dificuldade para o plantio, hoje, ainda é o
maquinário para irrigação. “Custa em torno de dez mil reais, com vida útil de
cerca de dez anos. A despeito dos custos de manutenção, o retorno é alto e
garantido”, afiança Tomé. “As plantações irrigadas têm alta produtividade,
facilitam o transporte e o trânsito de tratores para a limpeza, além de
produzir o ano inteiro.” (Setenta por cento do açaí é produzido de agosto a
dezembro. Nos demais meses, a entressafra chega a dobrar o preço.
E gera fatos curiosos: quatro
municípios do extremo Marajó (Gurupá, Afuá, Chaves e Anajás) têm o ciclo
invertido e, durante nossa entressafra, exportam açaí para Belém, em canoas
cheias de gelo. Também se diz, nesses meses, que Belém consome açaí vindo do
Amapá.
Na verdade, o açaí do Marajó vai
paro Amapá, pertinho de lá, e vem de avião pra Belém: o alto preço aqui na
entressafra compensa.
Fonte: O Liberal