O hábito tipicamente amazônico de dormir em
redes está sendo aplicado no processo de Humanização do Hospital Regional
Público do Marajó, localizado em Breves. A experiência será apresentada no 66º
Congresso Brasileiro de Enfermagem, que acontecerá no final do mês, em Belém.
No HRPM, as redes são usadas pelas mães que acompanham os filhos na UTI
Neonatal, pelos bebês prematuros que ainda necessitam de incubadoras, e também
em casos especiais, como o de uma paciente que nunca havia dormido em cama e
precisou ser internada no Centro de Terapia Intensiva, numa experiência inédita
no Brasil.
O assistente social Igor Cruz, responsável
pelo setor de Humanização do HRPM, explica que o hospital adotou as diretrizes
estabelecidas pela Política Nacional de Humanização em todas as instâncias do
SUS. E destaca que a regionalização desta política é uma meta dentro do HRPM,
onde foi instalado um redário para as mães que acompanham as crianças
internadas no Centro de Terapia Intensiva do Hospital.
“Como estamos localizados em uma região onde
grande parte da população é de origem ribeirinha e a cultura de dormir em redes
é muito forte, nós adaptamos um espaço do hospital para que as acompanhantes
pudessem ficar mais confortáveis”, explica o assistente social.
A experiência deu certo e foi aprovada tanto
pelas acompanhantes quanto pelos pacientes adultos. A professora Natália Santos
Diniz, 30 anos, deu à luz a pequena Letícia, no dia 24 de setembro. Embora
nascida de um parto normal, a criança apresentava problemas respiratórios e
precisou ficar internada para acompanhamento médico. Desde então a mãe passou a
acompanhá-la. “A estrutura daqui é muito boa e por ser um hospital regional as
redes foram uma excelente ideia, pois muita gente que vem de longe as prefere
para dormir”, comenta.
É o caso de Mauriane Cardoso dos Santos, 24
anos, que mora em uma comunidade à margem do Soiai, entre os municípios de
Breves e Melgaço, onde só é possível chegar por via fluvial. Ela é mãe de
Rafael, nascido no dia 27 de setembro. O bebê também precisou ficar na UTI
recebendo cuidados médicos intensivos e, em razão da distância do local onde
mora, Mauriane decidiu ficar no hospital acompanhando o filho. “Ele nasceu com
uma 'canseira' (problema respiratório) e foi transferido para cá. Desde então
eu fico direto aqui com ele. O Hospital me dá o café, almoço e janta, e eu
durmo junto das outras mães no redário”, explicou.
A experiência com redes no Centro de Terapia
Intensiva acabou por destacar o trabalho dos enfermeiros Thiago Amaral, Daise
Miranda e Marcelo Williams, que acompanham os pacientes internados na unidade.
Essa experiência inusitada chamou a atenção dos coordenadores do Congresso
Brasileiro de Enfermagem, que convidou os três para relatarem essa vivência,
com destaque para o caso da paciente vinda da zona rural de Breves que nunca
tinha dormido em cama e solicitou ao hospital uma rede.
“A direção do hospital considerou relevante a
reivindicação da paciente, afinal seria muito desconfortável para ela
permanecer em um leito de hospital sem o conforto necessário. Por conta disso
providenciamos um descanso de rede dentro da Terapia Intensiva. O resultado foi
bastante positivo. Conseguimos mantê-la monitorizada todo o tempo em que
permaneceu aqui e pudemos constatar que os parâmetros vitais dela melhoraram
consideravelmente”, explicou Igor Cruz.
Alta e Média Complexidade
O Hospital Regional Público do Marajó (HRPM)
conta com uma equipe de 438 colaboradores, diretos e indiretos, que acompanham
uma média mensal de 220 internações - o equivalente a 1.571 pacientes/dia. No
setor de Pediatria, os casos mais comuns são de pneumonia, insuficiência
respiratória aguda, desnutrição e desidratação grave. Na UTI Neonatal são
atendidos os casos de prematuros extremos.
O HRPM dispõe de 70 leitos, onde os pacientes
recebem atendimentos nas mais diversas especialidades como obstetrícia,
cirurgia, ortopedia, oftalmologia, cardiologia, clínica médica, além de exames
laboratoriais, por imagem e métodos gráficos.
O estabelecimento oferece também centro
cirúrgico e obstétrico, com três salas - uma para reanimação, um ambiente de
pós-operatório e uma sala de pré-operatório. O usuário ainda dispõe de uma unidade
de ambulatório com cinco consultórios.
Assim como nos demais hospitais regionais do
Pará, para obter atendimento os pacientes são referenciados do Hospital
Municipal e passam por avaliação da Central Regional de Regulação. De acordo
com cada caso e a oferta de vagas em leitos, é validado o encaminhamento do
paciente para atendimento no Hospital Regional do Marajó.
Serviço: O HRPM dispõe de atendimento
ambulatorial de segunda a sexta-feira, das 7 às 18 horas. O hospital está
localizado na Av. Rio Branco, 1.266, Centro. Informações: (91) 3783-2140 /
3783-2127.
Fonte: AGPA.