
No Marajó, a três horas de distância de
Curralinho, em uma viagem de voadeira (lancha com casco de alumínio), a
comunidade da Serafina, localizada na nascente do Rio Canaticu, vive a
expectativa de instalação de um telecentro, fruto de um projeto do Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO). Bem mais embaixo,
próximo da sede urbana do município, a comunidade da Ponta Alegre comemora a
instalação de um centro de informática e que utilizará a energia solar, doação
do programa de televisão CQC, da BAND. Enquanto isso, o município aprovou uma
lei que tornou a inclusão digital uma das prioridades de Curralinho. E não para
por aí, em breve a cidade também receberá a doação de 3 telecentros com um
total de 33 computadores, como parte do Programa SERPRO de Inclusão Digital,
iniciativa do Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO).
São ações comemoradas pelas lideranças e
moradores de Curralinho, como parte do processo de transformação social que o
município vivencia nos últimos anos. Resultados de esforços para fortalecer a
organização social local, e que tem como foco a educação da nova geração – uma
das frentes de trabalho do projeto Marajó Viva Pesca, realizado pelo Instituto
Peabiru com patrocínio da PETROBRAS e do Governo Federal.
“Andamos lado a lado com as lideranças locais
e demais organizações públicas e privadas na captação de recursos para levar a
inclusão digital à região. Isso é muito importante, pois quando falamos de
recuperação e conservação de recursos naturais, obrigatoriamente, temos que
trabalhar a sensibilização e conscientização dos moradores para a questão
ambiental”, diz Manoel Potiguar, gerente de projetos do Instituto Peabiru.
Doação do CQC de equipamentos e placas
solares para telecentro da comunidade Ponta Alegre contou com parceria da ONG
Pro-Natura e lideranças locais. (Foto: Tiago Chaves/Instituto Peabiru)
As iniciativas são comemoradas pelas
lideranças locais. “Vivemos um momento de grande euforia no final do ano
passado com a doação do CQC dos equipamentos de informática e energia solar
para a construção do telecentro na comunidade da Ponta Alegre, na zona rural.
Podemos dizer que foi a gota d’água que faltava para fazer transbordar o
sentimento dos moradores de que através da nossa organização podemos trazer
projetos que gerem desenvolvimento”, comenta Marcos Baratinha, presidente da
ONG Lupa Marajó e Secretário Municipal de Educação de Curralinho. A doação do
CQC contou com a parceria do Instituto Peabiru e da ONG Pro-Natura, do Rio de
Janeiro, que atualmente também soma esforços com as lideranças locais para a
implantação das placas solares que irá fornecer energia elétrica para o
telecentro da comunidade e dar continuidade a este momento que a região vive.
E este sentimento se refletiu na aprovação de
uma lei municipal, no mês de dezembro do ano passado, que reestruturou o
executivo de Curralinho no que diz respeito à inclusão digital. “A lei prevê no
organograma do executivo uma coordenação de inclusão digital e mídias da
educação, para priorizar este tema como política pública de Curralinho” explica
Marcos.
Com doações do SERPRO, outros três
telecentros serão construídos em Curralinho. “Já estamos elaborando um plano de
implantação destes espaços e montando a equipe que irá coordenar todas estas
ações”, revela Marcos. Dois telecentros são em escolas municipais na zona
rural, ao longo do Rio Canaticu e um terceiro é está na área urbana, dentro da
sede da Colônia de Pescadores Z-37. Cada um terá 11 computadores, já
configurados para acessar a internet.
Um dos principais desafios, no entanto, está
em levar o acesso à internet para a zona rural, principalmente junto aos
ribeirinhos. “Isso vai garantir a inclusão digital. Hoje todos os jovens já
possuem smartphones, perfis nas redes sociais, mas só podem utilizá-los quando
estão na zona urbana. Com estes telecentros isso irá mudar”, explica o Marcos
Baratinha. “A proposta é que a inclusão social e as mídias de educação façam parte
da formação cidadã dos nossos alunos. Essa inclusão digital na área rural irá
possibilitar, por exemplo, que as escolas consigam ter mais acesso a recursos
financeiros e pedagógicos com a facilidade de conexão para enviar documentos
sem precisar gastar tempo com viagens para o centro urbano”, complementa.
É o que deve ocorrer na comunidade da
Serafina, dentro da Reserva Extrativista (RESEX) Terra Grande Pracuúba, onde os
computadores já foram doados e as obras de construção do local que abrigará o
telecentro estão concluídas. No entanto, a falta de energia elétrica impede a
implantação do espaço. “A comunidade não tem como arcar com os custos da
energia gerada com o uso de motor a diesel. A solução seria a instalação de
energia solar. E estamos em contato com o ICMBIO, juntamente com a Associação
Mãe da RESEX, para dar prosseguimento a este projeto, para evitar que os
computadores se tornem obsoletos ou sofram avarias pelo não uso”, diz Marcos
Baratinha. “No total, a RESEX receberá três telecentros, todos estão na mesma
situação”, informa o secretário.
De acordo com Manoel Potiguar, todo este
processo passa pela mudança na educação. “A implantação dos telecentros, já é
uma demanda das lideranças do Canaticu e de Curralinho, como um todo, há muito
tempo e agora, com o fortalecimento delas através de todas essas parcerias,
está virando realidade. Isso mostra o quanto a união de todos os moradores, uma
vez organizados, consegue a relevância necessária para exigir seus direitos e
influenciar os processos decisórios de ações que afetem a região, as políticas
públicas”, explica o gerente.
Fonte: Instituto
Peabiru.