Pelo menos 50 sítios pré-coloniais e
coloniais escondem um abundante e variado arsenal de artefatos cerâmicos e
líticos, afirmam pesquisadores
Arqueólogos, antropólogos e estudantes de
ciências humanas realizam escavações em Gurupá com o objetivo de desvelar a
história cultural e ambiental de elementos até então desconhecidos pela
Arqueologia brasileira na região. Nesta primeira fase, os trabalhos se
concentram na Reserva Ambiental do Jacupi, local considerado produtivo pelos
pesquisadores.
“Reconhecemos um fértil campo arqueológico
com culturas diversificadas, nunca pesquisadas do ponto de vista da
arqueologia, exceto com alguns levantamentos realizados recentemente pelo IPHAN
e pela UFPA. As informações sobre a história indígena colonial e de outros povos
que habitaram a região, se mesclam e tornam a população de Gurupá extremamente
única”, afirma a arqueólogo do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Helena
Pinto Lima, que coordena a pesquisa de cunho interdisciplinar com foco na
Arqueologia.
Cerca de 20 pesquisadores, brasileiros e
americanos, integram o projeto do MPEG, denominado OCA – Origens, Cultura e
Ambiente, autorizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN), em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade
de São Paulo (USP), Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA) e
Universidade da Flórida (UFL).
Os estudiosos realizam levantamentos em
topografia, delimitação e escavação de cortes estratigráficos em áreas
selecionadas, identificadas por equipamento de radar, de onde serão extraídas
amostras arqueológicas e ambientais que serão levadas à análises em
laboratórios do MPEG, em Belém.
Estudos mais aprofundados e de maior
extensão, tanto em campo como em laboratório, a serem realizados em futuras etapas,
fornecerão dados arqueológicos, ambientais e científicos com estudos voltados
ao esclarecimento de interações multiculturais e transformações das relações
homem-ambiente, ao longo do tempo de ações indígenas (nativos da região),
judaicas, quilombolas e européias (que chegaram depois).
De acordo com a arqueólogo que coordena as
pesquisas, as descobertas recentes são intrigantes quanto ao uso de técnicas e
motivos decorativos, que parecem não se enquadrarem diretamente aos conjuntos
arqueológicos já estabelecidos, tais como as Tradições Policroma da Amazônia ou
a Tradição Incisa e Ponteada.
“Os vestígios cerâmicos da região, embora não
tenham sido formalmente estudados, demonstram traços estilísticos que sugerem
intercâmbio intelectual com as regiões do Trombetas/Tapajós e da foz do rio
Amazonas, pelo menos no período tardio. Isto sugere que, mesmo antes da chegada
dos europeus, Gurupá já atuava como um centro estratégico nas redes econômicas
regionais”, conclui Helena Pinto Lima.
O trabalho dos pesquisadores recebe apoio da
Prefeitura Municipal de Gurupá, por meio da Secretaria de Cultura, “como forma
de ter acesso às informações da cultura de nossos ancestrais, sendo esta uma
oportunidade de revelar histórias até então desconhecidas”, observa o secretário
Claudinei Alves.
Gurupá está localizado entre a região de
florestas do arquipélago do Marajó e a foz do rio Xingu, a 20 metros de
altitude. Possui 31 mil habitantes (CENSO 2014) divididos na área de ilhas e
rios (70%) e na zona urbana (30%). Sua economia é baseada no agroextrativismo e
serviços públicos e privados. O projeto do MPEG aponta que o município se
encontra entre duas importantes áreas culturais do período pré-colonial tardio
na Amazônia: Santarém e Marajó.
Texto e fotos: Rui
Pena