Eliseu Pereira,
fotógrafo marajoara, está na luta para vencer o esquecimento em que vive sua
arte, no distante município de Muaná, na Ilha do Marajó, onde nasceu e vive, e
fazê-la brilhar em Paris, no Museu do Louvre. Essa luta tem uma história e um
começo. Em abril deste ano, Celso Lobo, também fotógrafo e paraense como ele,
mas residente em Belém, foi condecorado embaixador das artes na Região Norte
pela “Divine Académie Française des Arts Lettres et Culture” (Divina Academia
Francesa de Cultura Artes e Letras). E recebeu a missão de fazer indicações
para as publicações e exposições patrocinadas pela Academia no mundo.
A “Divina
Academia” já homenageou artistas brasileiros de diversas áreas, entre outros,
só na música, Milton Nascimento, Martinho da Vila e Cauby Peixoto. Para Celso
Lobo, a exposição que ele e Eliseu, como artista por ele indicado, farão no
Museu do Louvre, é apenas o começo do que pretende fazer como embaixador na
Amazônia da “Divina Academia”. “Como todo membro da Academia devo agir com
fraternidade, humildade, rigor, eficiência e benevolência, divulgando e
incentivando a cultura e as artes”, diz. “Mas não é só: temos o dever de
glorificar o trabalho dos grandes humanistas e honrar e reconhecer mulheres e
homens de valor”. E resume a amplitude da sua tarefa: “A ‘Divina Academia’ deve
ser reconhecida no mundo como uma organização voluntaria de homens livres e de
boa vontade, agindo com temperança, força, e, sobretudo, justiça”.
Admirador do
trabalho de Eliseu, indicou o fotógrafo marajoara para ser um dos 50 fotógrafos
brasileiros selecionados pela instituição para mostrar suas obras no famoso
museu francês, na Semana Cultural da Academia, da qual também vai participar,
de 19 a 26 de outubro, quando será lançado o álbum de fotos da jornalista Diva
Pavesi “Les Brésiliens vus par les Brésiliens” (Os Brasileiros vistos pelos
Brasileiros), que tem o mesmo título da exposição.
“Eliseu aprendeu
tudo sobre fotografia sozinho, é um grande talento”, diz Celso. “Por isso ele
foi a minha primeira indicação como embaixador das artes aqui no Norte do
país”. Celso também está indicando Eliseu para integrar a “Divina Academia”.
Eliseu se
apresenta como “um caboclo marajoara”, e acrescenta: “Tive a sorte em ter
nascido e me criado neste paraíso, em Muaná, nas margens do rio Buiuçu do
Atatá”. Ele teve seu primeiro contato com a fotografia quando tinha cerca de 9
anos e desde então vem registrando as manifestações da cultura e tradições
marajoaras, que agora, graças a indicação de Celso, poderá mostrar para o
mundo.
Jovem, com 28
anos de idade, Eliseu, que nasceu em 19 de abril, não por acaso, no Dia do
Índio, se diz fortemente ligado às raízes da sua terra. E conta: “Minha família
é toda do interior, somos quatro irmãos e meu filho, que ainda vai fazer dois
anos, seguirá o mesmo caminho - fidelidade aos valores e às belezas da nossa
terra natal”. A fidelidade a que ele se refere é “viver conforme o modo de vida
do povo de Muaná e de todo o Marajó, valorizando nossa cultura e costumes”.
DESPERTAR
Ele lembra como
se deu sua descoberta da fotografia. “Um dia, um primo meu comprou uma Yashica
Ez Emate. Nós juntávamos latinhas para vender, para poder comprar os filmes e
mandar revelar as fotos. Foi como tudo teve início”. Eliseu começou então a
fazer incursões fora da sua cidade, procurando assunto “na mata próxima”. Essas
incursões aumentaram o seu entusiasmo pela fotografia, e quando a era digital
chegou até a Ilha do Marajó, com o crescimento da globalização, ele decidiu
aperfeiçoar seu talento de fotógrafo amador. “Comecei a estudar fotografia,
pesquisando cursos e assistindo videoaulas, consegui comprar uns livros e fui
praticando esses novos conhecimentos”. Eliseu se diz um “amante da fotografia”
e declara sua maior meta: “Tenho um ideal, difundir a cultura do nosso povo,
que até então continua desconhecida pela maioria das pessoas. Quero usar a
fotografia para fazer as pessoas darem mais valor ao nosso povo, e não deixar
que se deixe que tudo que os nossos antepassados construíram e ensinaram caia
no esquecimento, ignorado pelos próprios habitantes do Marajó”.
Quando veio o
convite para, enfim, realizar seu ideal aos olhos do mundo, a alegria foi
grande, diz Eliseu. Mas, conquistado o mais difícil pelo seu talento, assim
como pelo talento de Celso Lobo, vieram as dificuldades que os dois estão
enfrentando para mostrar sua arte na Europa. Lugar comum enfrentado geralmente
pelos artistas da Amazônia: a falta de apoio das instituições encarregadas de
zelar pela Cultura na região.
Celso Lobo conta:
“O mais difícil, que é abrir caminho para o talento paraense ser reconhecido lá
fora, nós conseguimos sozinhos. Mas aí começam as maiores dificuldades”, diz
ele, que desde o convite para a exposição na França iniciou uma “peregrinação”
por essas instituições, batendo de porta em porta em busca de apoio para
estadia e passagens. Sem resultado. Mas ainda não desistiu, e agora vai
procurar a Secretaria de Estado de Turismo (Setur). Celso, porém, também está
tentando por conta própria: comercializando algumas das suas fotos já montadas
em molduras e as pondo a venda, e abriu na agência 1573 do banco Itaú a conta
00993-1. “Toda ajuda será bem-vinda, de qualquer valor”.
Como Celso em
Belém, Eliseu também tenta vencer essas dificuldades no Marajó, onde os
artistas vivem em ainda maior isolamento. Ele está buscando o apoio da
Prefeitura de Muaná, e espera que sua terra natal lhe dê o apoio necessário
para a viagem a Paris e a oportunidade de mostrar as belezas marajoaras em Paris.
Em sua luta,
ombro a ombro, Eliseu Pereira e Celso Lobo se fortalecem e confiam que vão
conseguir. “Estamos juntos nessa na luta. E vamos mostrar nossas artes no
Louvre juntos”, eles afirmam, decididos.
Fonte: O Liberal.