A ideia é simples, mas precisou de uma equipe
bem preparada e com muita vontade de fazer valer o significado da palavra
sustentabilidade. No município de Portel, região do Marajó, no estado do Pará,
foi criada a Unidade Agroflorestal de Portel – Unap, constituindo- -se de 44
hectares destinados à produção de hortaliças e mudas de espécies florestais e
frutíferas.O trabalho teve início no ano de 2013 e os primeiros frutos do
empreendimento estão literalmente sendo colhidos.
Adubados e tratados com matéria orgânica,
couve, cheiro verde, alface, cebolinha e outras verduras e legumes estão
abastecendo o comércio local, movimentando uma fatia da economia da cidade e
levando saúde para a mesa das famílias portelenses. Frutas como maracujá e
acerola também já estão sendo colhidas nas unidades demonstrativas do viveiro
municipal.
“Com este trabalho, estamos mostrando para a
comunidade portelense que com poucos recursos e sem muita tecnologia é possível
gerar renda e criar uma alternativa de economia”, explica o engenheiro agrônomo
Heron Wagner Macedo, titular da Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Econômico de Portel – Sede. Com a produção do viveiro, acrescenta Heron, Portel
já conseguiu cortar a relação de comércio com a Ceasa-Belém das chamadas
verduras folhosas. “Já somos autossuficientes neste quesito”, assegura ele.
TRAÇANDO O CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE
Em janeiro de 2013, Paulo Ferreira assumiu a
prefeitura de Portel. Começou a trabalhar sob o lema “Sustentabilidade e
desenvolvimento humano”. Formou uma equipe para desenvolver o projeto da
criação de um viveiro de mudas e hortaliças. . “A área já existia, havia sido
formatada pela gestão anterior. Ampliamos, fizemos investimentos, construímos
um viveiro padronizado com quatro galpões de 40 leiras para as hortaliças”,
detalha Antônio Vaz, no cargo de diretor de agroextrativismo da Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Econômico. A Unap fica localizada próxima ao
centro urbano, no Km 3 da estrada Portel/Tucuruí
Portel tem uma população formada por cerca de
53 mil habitantes, de acordo com o mais recente censo. “Precisamos pensar em
projetos para o desenvolvimento humano de forma sustentável”, pontua Idinor
Ferreira, diretor de agronegócios da Sede e também integrante da equipe que
coordena os trabalhos na Unap. Ele lembra que o município figura na lista dos
que apresentaram menor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, na última
avaliação feita pelo Programa Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud – 2010). O índice resume o progresso a longo prazo em três dimensões
básicas do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O momento é de
reverter este quadro, acredita Idinor. Ele destaca que esta mudança está
acontecendo. “Já estamos consumindo hortaliças produzidas em nosso município e
de forma sustentável”, exemplifica.
O município de Portel, localizado no estuário
Anapu/ Pacajás, oeste do Marajó, fica a cerca de 270 quilômetros da capital do
Pará. O nome, significando “porto pequeno”, como o de muitas outras cidades
paraenses, faz referência à localidade existente em Portugal. O acesso pode ser
via marítima ou área. “O grande potencial econômico é mesmo o
agroextrativismo”, enfatiza Antônio Vaz. Ele lembra que o município se destaca
como um dos grandes pólos de cultivo de mandioca e produção e exportação da
farinha, produto que tem como mercados os municípios de Afuá e Breves, entre
outros da região, além do Estado do Amapá. “São toneladas de farinha de
mandioca que saem de Portel para outros municípios todas as semanas. Os frutos
são da melhor qualidade ”.
CURSOS DE CAPACITAÇÃO
O projeto elaborado para construção do viveiro
vai além da plantação e fornecimento para o mercado local. Mudas de hortaliças
são doadas para as comunidades, verduras são distribuídas para escolas e
instituições que desenvolvem trabalhos filantrópicos, como o que aconteceu
recentemente no bairro Portelinha, quando famílias receberam orientações sobre
o plantio e cultivo de hortaliças, além de informações sobre a importância da
preservação ambiental e do desenvolvimento sustentável, ou, ainda a capacitação
em plantio e manejo de açaizais nativos, promovida na comunidade Nossa Senhora
do Bom Remédio – Vila Gomes. Participaram deste treinamento líderes
comunitários do Rio Camarapi.
O espaço da Unap recebe constantemente a visita
de professores, estudantes, técnicos e profissionais que trabalham nesta área e
que têm interesse em aprender mais sobre o assunto ou mesmo desenvolver
projetos semelhantes. Essa disseminação de conhecimento e prática para além das
divisas e fronteiras também se destaca como um dos objetivos do grande projeto
de sustentabilidade que vem sendo levado adiante neste pedaço do Marajó.
“Para a realização de cursos e treinamento,
contamos com parcerias do Sebrae, Emater e Serviço Nacional de Aprendizagem
Rural (Senar), informa o secretário Heron Macedo. As aulas são realizadas no
centro urbano e também na zona rural. Os interessados em participar devem
procurar a sede da secretaria, na avenida, Floriano Peixoto, 85 altos. Heron
adianta que o próximo passo da Unap é o plantio experimental do milho O milho
(Zea mays) também chamado abati, auati e avati soja, quando será verificada a
viabilidade da cultura na região. Este cultivo permitirá a introdução de uma
nova fonte de renda para os moradores, além da já tradicional atividade
envolvendo a mandioca para futura produção da farinha e amido
Na realidade, viveiro, observa Heron, é apenas
um “apelido carinhoso” para a Unidade Agroflorestal. No local, são cultivadas,
além das frutíferas, mudas de espécies florestais diversas, algumas, inclusive,
já inseridas na lista de extinção, como copaíba, andiroba, cumaru e jatobá.
Muitas são doadas e grande parte está destinada a projetos futuros de plantio
de áreas que foram desmatadas.
Fonte: Revista Amazônia
Fotos: PMP